Para falarmos sobre o uso das estacas helicoidais no Brasil, precisamos voltar um pouco para um conhecido passado. A solução criada nos idos de 1830 pelo irlandês e engenheiro civil Alexander Mitchell, tinha por intenção resolver o problema de fundação de estruturas marítimas, mais especificamente píer e faróis. Sua primeira utilização e teste data de 1832, descrito por Irwin Ross em 1834. Ainda como uma solução bastante rudimentar de grande porte (comparada com os modelos atuais), feita em ferro fundido.

Como a intenção deste artigo não é a de descrever a história da solução e sim a sua utilização no Brasil, vamos pular alguns anos para 1985, uma pequena cidade no centro dos Estados Unidos e uma pequena empresa chamada A.B. Chance. Este é o primeiro registro de patente da então chamada “helical pier“, o que conhecemos como estaca helicoidal para utilização na construção civil. O principal foco era o de acelerar o reestabelecimento das redes de distribuição de energia destruídas pelo clima de inverno rígido da região. Já em 1994 a empresa foi adquirida pelo grupo Hubbell, mas a época a principal utilização da solução já era compartilhada com o reforço estrutural. Mas foi após a aquisição que a solução começou a ganhar força de expansão para outros mercados e em meados dos anos 2000, através de uma parceria, a Hubbell trouxe para o Brasil esta solução.

Prontamente a estaca helicoidal foi abraçada por uma enorme deficiência no Brasil, que é a construção da infraestrutura elétrica e o então recém-lançado SIN (Sistema Integrado Nacional). O desafio sempre foi proporcional ao tamanho continental do Brasil, o de ligar a fonte geradora aos consumidores, e para isso “bastaria” conectar o Norte ao Sudeste. Bem, com dimensões continentais e uma enorme concentração da infraestrutura no Sudeste, isso seria um desafio, já que a disponibilidade de materiais e o controle de qualidade da execução das obras ficam extremamente comprometidos tanto quanto nos afastamos de grandes centros.

Desta forma que a estaca helicoidal veio trazer um enorme avanço e com muitos benefícios a esta vertente da engenharia, permitindo que grandes estruturas fossem construídas em meio a florestas com o mínimo de impacto ambiental e um grande ganho de velocidade para os empreendimentos que ficou bastante evidente com o apagão de 2001, expondo a deficiência de um sistema mal dimensionado e obsoleto.

Imagem 1 – Torre de Linhas de Transmissão com estaca helicoidal em fundação

Fonte: Acervo interno

     

A solução amplamente estudada nos Estados Unidos logo foi colocada a prova no Brasil com um enorme desafio, o de sustentar as estruturas do então chamado projeto Rio Madeira, que conecta as usinas de Jirau e Santo Antônio no Estado de Rondônia ao Estado de São Paulo em um percurso de 2373km e que custou aproximadamente R$7 bilhões com uma linha de transmissão de 600kV. Neste empreendimento as estacas helicoidais foram instaladas em estruturas estaiadas e em estruturas autoportantes de suspensão

Após este início triunfal, as estacas helicoidais têm sido amplamente aceitas e vistas muitas vezes como a solução que viabiliza muitas das obras no sistema de transmissão de energia. Foram utilizadas desde então em projetos de muita expressão como os projetos da Norte Brasil, Belo Monte, dentre outros tantos de muita importância para o SIN, e desta forma tiraram o Brasil do risco iminente de racionamento e do apagão de energia.

Imagem 2 – Instalação e ensaio de estaca helicoidal – obras de Linha de Transmissão


Fonte: Acervo interno

A INCOTEP foi uma das primeiras empresas a produzir e comercializar o produto no país (início dos anos 2000). Atualmente é a líder e referência do mercado nacional fornecendo não somente um produto de extrema qualidade, mas oferecendo também todo suporte de engenharia com profundo conhecimento da solução para uso no mercado de infraestrutura e de construção civil no Brasil e em mais países da América Latina.

2 comentários em “A Estaca Helicoidal e o Brasil

  1. Danilo, nos Estados Unidos a utilização de estaca helicoidal é bastante empregada e isso possibilita que nas mais diversas áreas/segmentos possa ser vista. No Brasil, ainda não temos esse cenário. O que pensa a respeito disso, e na sua opinião, o que falta para que essa solução possa ser melhor explorada no país?

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